SEM DEUS, SEM PACIÊNCIA E SEM ESPERANÇA

Sidney Silveira

Paciência é a virtude moral que inclina uma pessoa a suportar – sem grandes tristezas ou abatimento de ânimo – os males que lhe sobrevêm. Como todo e qualquer mal tem caráter de repugnante, pode-se dizer que, a seu modo, a paciência é uma importante auxiliar da virtude cardeal da fortaleza, cujo movimento mais próprio é resistir, no sentido de padecer sem esmorecer.

Santo Tomás diz que o principal motor da paciência é a conformidade humana com a amorosa vontade divina, que nos envia tribulações sabendo, mais que nós mesmos, o que propriamente nos convém. Isto vincula ontologicamente a paciência à virtude teologal da fé.

Em breves palavras, quem não tem fé em Deus tende à impaciência e ao desespero como a fins próximos. A razão disto é simples: não consegue instrumentalizar o sofrimento em ordem a bens transcendentes a pessoa que se fechou no mundo da imanência. Ora, se só existe esta vida, não há por que sofrer, ou melhor, o sofrimento não tem porquês nem razão de ser; é absurdo.

É impossível quem se encontra neste estado não desenvolver uma mentalidade fatalista e, nalguns casos, também supersticiosa.

A propósito, entre os impacientes é comum verificarmos a ignóbil atitude de ABSOLUTIZAÇÃO DA POLÍTICA, pois para essas criaturas umbigocêntricas tudo é “político”: da cores do vestuário ao que se faz no segredo da alcova. Tudo! E nem poderia ser diferente, pois o individualismo que predomina entre tais criaturas faz com que esperem do Estado (identificado “stricto sensu” com a política) a resolução dos seus problemas mais ordinários.

Na prática, o Estado é o deus imanente dos ateus, em quem estes depositam as esperanças. A política é a sua religião.

É um mundinho sem paciência, porque nele o sofrimento em nenhuma circunstância se explica ou se justifica.